Eduardo Matos sofre ameaça e entidades se manifestam

Jornalista foi vítima de ataques enquanto passeava com o filho em um shopping de Porto Alegre

Eduardo Matos (esquerda) gravou discussão com Guilherme Selister (direita) - Crédito: Eduardo Foltz; Reprodução/Twitter/Eduardo Matos

Mais um episódio de ataque ao trabalho da imprensa ocorreu neste domingo, 6, em Porto Alegre. Enquanto passeava com o filho adolescente em um shopping da Zona Norte, Eduardo Matos foi ameaçado por Guilherme Selister, citado em mais de 10 reportagens assinadas pelo jornalista, que apuraram a aplicação de golpes financeiros em mulheres. Após manifestação do profissional via redes sociais, entidades representativas da categoria cobraram providências.

As matérias em questão foram publicadas em GZH, na rádio Gaúcha e na Zero Hora, veículos do Grupo RBS, de onde Eduardo se despediu em fevereiro deste ano para atuar como assessor de imprensa. Em conversa com a reportagem de Coletiva.net, o jornalista relatou que estava na praça de alimentação do estabelecimento quando foi abordado. "Esse cidadão tocou no meu ombro e disse: 'Agora a gente vai acertar isso de homem para homem. Vamos lá fora'", contou.

Em resposta, o comunicador pediu ao filho que se afastasse, disse que não iria e que se Guilherme quisesse falar com ele seria naquele local, "com todo mundo vendo". "Entramos em uma discussão, com ele falando que eu estava o acusando sem provas. Eu investiguei ele por mais de um ano e fiz mais de 10 reportagens", afirmou. Inclusive, algumas das evidências juntadas pelo jornalista hoje compõem os inquéritos que apuram os casos.

Investigações

Segundo Eduardo, o modus operandi de Guilherme consiste em conquistar mulheres e, após um tempo de relacionamento, começar a pedir dinheiro emprestado e a usar cartões de crédito das vítimas, até sumir sem pagar. "Depois da minha reportagem, por volta de maio do ano passado, várias vítimas me procuraram. Já são várias denúncias e quase 10 inquéritos, sendo que quatro desses viraram processos criminais por estelionato e um deles por estelionato e ameaça", relatou.

Ao novamente ouvir que não tinha provas das acusações feitas, o profissional argumentou que Guilherme poderia processá-lo por danos morais e ganharia. "Eu certamente gerei um prejuízo para ele, que vive de golpes. Essa é a profissão dele, de golpista. Então quando alguém o denuncia está lhe prejudicando", comentou. Parte do episódio foi gravada pelo jornalista, que não sabe dizer se estava sendo seguido antes do encontro ou se foi uma coincidência.

Porém, Eduardo, que já registrou um Boletim de Ocorrência (B.O.), garantiu que não será isso que o fará parar, e nem aos colegas do Jornalismo Investigativo. "A ameaça a um jornalista é uma ameaça à democracia e à verdade. Então, quando alguém toma esse tipo de atitude, é porque está devendo algo e, por estar devendo, ficou indignado em ter sido revelado", concluiu.

Entidades se manifestam

Por meio de nota conjunta, a Associação Riograndense de Imprensa (ARI), a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) repudiaram o que definiram como uma "covarde ameaça" e prestaram solidariedade a Eduardo. "Queremos uma investigação rigorosa para que as e os jornalistas que trabalham com qualquer assunto de interesse público tenham segurança o bastante para exercer o seu ofício", cobraram.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) também se pronunciou. "A Abraji pede às autoridades que investiguem o caso e garantam aos jornalistas que cobrem o caso a segurança necessária para cumprir o papel de informar a sociedade", solicitou. A entidade ainda ressalta que "abordar um profissional em momento de lazer com sua família não é a forma adequada de pedir eventual reparação ou direito de resposta". "Trata-se de intimidação e constrangimento", finaliza.

Confira as notas na íntegra:

ARI, Fenaj e Sindjors:

A Associação Riograndense de Imprensa (ARI), o Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SindJoRS) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) manifestam seu total repúdio contra a covarde ameaça sofrida pelo jornalista Eduardo Matos, neste domingo (06), em Porto Alegre, no seu período de folga com a família, e prestam solidariedade ao colega.

O repórter estava acompanhado de seu filho, em um restaurante, quando foi abordado por um indivíduo, que teria enfrentado publicamente o profissional com um tom de intimidação. Ele é citado em reportagens de Eduardo Matos divulgadas nos veículos Zero Hora, Rádio Gaúcha e GZH e foi denunciado por mulheres que o acusam de golpes financeiros. É inadmissível que um profissional de imprensa sofra esse tipo de ameaça e intimidação. Queremos uma investigação rigorosa para que as e os jornalistas que trabalham com qualquer assunto de interesse público tenham segurança o bastante para exercer o seu ofício.

Eduardo Matos informou que vai prestar queixa à polícia nesta segunda-feira (07). Abordar um profissional em momento de lazer com sua família não é a forma adequada de pedir eventual reparação ou direito de resposta. Trata-se de intimidação e constrangimento.

Abraji:

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) repudia com veemência e pede apuração sobre ameaça recebida neste domingo (6.ago.2023) pelo repórter Eduardo Matos. Ele estava acompanhado do filho adolescente quando foi abordado por Guilherme Selister em uma praça de alimentação. A ação de Selister teria tido tom de intimidação.

Selister é citado em dez reportagens de Eduardo Matos divulgadas nos veículos Zero Hora, Rádio Gaúcha e GZH. Ele foi denunciado por mulheres que o acusam de golpes financeiros. De acordo com as investigações de Eduardo Matos, o homem teria se envolvido romanticamente com essas mulheres e, inventando histórias, teria extorquido muito dinheiro delas. Alguns dos casos viraram processos criminais.

Filmado neste domingo por Matos, Selister afirmou que esperou o jornalista sair do restaurante em que estava para abordá-lo, com a intenção de não expor seu filho adolescente a constrangimento. No entanto, pai e filho acabaram constrangidos pela abordagem repentina no momento de descanso do profissional. Ainda não é possível saber se o repórter estava sendo seguido ou se foi um encontro aleatório.

Eduardo Matos informou à Abraji que prestará queixa à polícia na manhã de segunda-feira (7). A Abraji pede às autoridades que investiguem o caso e garantam aos jornalistas que cobrem o caso a segurança necessária para cumprir o papel de informar a sociedade.

Em vídeo gravado por Matos fica claro que Selister foi procurado para dar sua versão das acusações de golpes financeiros em mulheres e que não quis apresentar seu posicionamento. Abordar um profissional em momento de lazer com sua família não é a forma adequada de pedir eventual reparação ou direito de resposta. Trata-se de intimidação e constrangimento.

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