A história de Pedro Janot é um exemplo de como o espírito empreendedor vai muito além dos negócios. É, sobretudo, sobre recomeçar. No palco do Summit Empreender 40+, realizado nesta quarta-feira, 29, no Teatro Bourbon Country, em Porto Alegre, o executivo e palestrante, hoje com mais de 60 anos e tetraplégico, compartilhou com o público uma jornada de conquistas, quedas e reconstrução.

Com bom humor, Janot conduziu sua fala com o tema 'A coragem de começar'", resgatando momentos marcantes de sua carreira e de sua vida pessoal. Ele lembrou que tentou empreender ainda aos 15 anos e, antes mesmo de entrar no mundo corporativo, foi bicampeão brasileiro da classe Laser Júnior na vela. "A estratégia e a tática no esporte me ensinaram a decidir sob pressão, e isso moldou minha forma de liderar e empreender", contou.

Da Mesbla à fundação da Azul Linhas Aéreas

Pedro iniciou sua trajetória profissional aos 19 anos, na Mesbla, como chefe de seção de camping e esportes. Desde o início, destacou-se pelo olhar atento às pessoas: "Eu fazia questão de estar com os miúdos - como ele carinhosamente chama os profissionais da base das companhias, aqueles que fazem o trabalho acontecer no dia a dia - chegava antes de todos e recebia cada colaborador". 

Casou-se aos 24 e, em seguida, ingressou nas Lojas Americanas, passando rapidamente à gerência de compras da Richards, onde ficou por 10 anos. Lá, viveu um dos períodos mais marcantes de sua vida executiva. "Mesmo jovem, fui praticamente um empreendedor dentro da companhia", recordou.

Depois, trabalhou por um breve período ao lado de Abilio Diniz, no Grupo Pão de Açúcar, até ser desligado após uma mudança no conselho. Então, ele conheceu uma grande paixão: a aviação. Foi um dos executivos responsáveis pela fundação da Azul Linhas Aéreas, onde atuou por 17 anos. "Ver a formação de uma cultura do zero foi um dos maiores aprendizados da minha vida."

O acidente e o recomeço

No auge da carreira, com 52 anos, Janot sofreu um acidente a cavalo que o deixou tetraplégico. "Caí de cara no chão. E aí vem a pergunta: o que você faz quando tudo muda?", refletiu. A resposta veio com o tempo, e com coragem.

"Nesse exercício de tentar voltar, descobri quem eu deveria ser no futuro. Me tornei palestrante, escritor, consultor, mentor e investidor. Hoje invisto em uma empresa que prepara pequenas e médias empresas para o mercado de capitais", destacou.

Para Janot, o sonho é o que tira as pessoas da cama todos os dias. "Empreender é um ato de sonho e responsabilidade. O sonho é tudo aquilo que faz você acreditar que algo pequeno pode ser grande. E ele precisa estar presente do CEO até o estagiário", afirmou. 

Cultura, valores e ritos

O palestrante defendeu que a tríade 'sonho + valores + ritos' é a base da cultura organizacional, e citou Peter Drucker para reforçar sua visão: "A cultura come a estratégia no café da manhã. Ela é uma engrenagem que precisa rodar em harmonia, mesmo com atritos."

Encerrando sua fala, o executivo fez um alerta: nem todos precisam ser líderes. Ele explicou que, enquanto o chefe é obedecido por medo, o verdadeiro líder é seguido pelos valores que transmite, e destacou, em tom bem-humorado, que é preciso "colocar o ego no bolso, de preferência em um bolso furado, para deixá-lo cair no chão".

Ao final, Janot lembrou uma frase de Francis Bacon "conhecimento é poder" e deixou uma mensagem de inspiração ao público 40+: "Empreender não é sobre idade. É sobre impacto. Sobre transformar o que se aprendeu em algo que toque vidas."