Luciana Moglia: Vida em movimento

De uma improvável graduação em Jornalismo, até se tornar fundadora da Moglia Comunicação Empresarial, ela veio a este mundo para "fazer acontecer"

Crédito: Juan Link

Foi com o resultado de um teste vocacional que a opção pelo Jornalismo surgiu na vida de Luciana da Costa Moglia. Para uma jovem nascida e criada em Bagé, no interior do Rio Grande do Sul, estudar Medicina, ou qualquer outra área considerada "tradicional", fazia mais sentido do que a inimaginável Comunicação.

Por este motivo, ao chegar em Porto Alegre, inscreveu-se em Medicina para o vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e teria o feito o mesmo na seletiva para a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), não fossem a fila enorme e o calor insuportável que a atormentavam naquele dia. "Eu não vou botar Medicina nada! Já sei que não vou passar! Toda essa fila horrorosa, para me inscrever em um curso que não vou entrar?", bradou Luciana, de 16 anos. No retorno para casa, ao ser questionada pelo pai se tudo havia corrido bem, a resposta veio sem rodeios: "Até que tudo foi bem, eu só mudei de profissão".

Esta troca, que mais pareceu um apaixonante encontro de almas, foi um divisor de águas para uma jovem do interior, que teve o campo de visão expandido pelas possibilidades de uma graduação em Jornalismo. "Minha convivência era em uma sociedade fechada. Vivia em uma bolha, muito boa, diga-se de passagem, mas era uma bolha", relata. A dona Vânia e o seu Mário até tentaram conversar com a filha, que nunca na vida havia pensado na Comunicação como uma possível profissão, para que não fizesse a matrícula. "Fiz mesmo assim e hoje não me vejo fazendo outra coisa. Olha a sorte! Podia ter dado tudo errado, né?", pondera.

Muito longe de dar errado, hoje, aos 45 anos, Luciana divide seu tempo entre ser irmã do Mário e da Gabriela, esposa do Mauro, mãe do Martim e da Marcela, tutora da cachorrinha Yasmin, jornalista e fundadora da Moglia Comunicação Empresarial. Vinda a este mundo para "fazer acontecer", ela gosta da vida em movimento, o que também não tira o apreço pela simplicidade, traço que também a guia dentro da profissão. "Tenho meus objetivos e minhas metas, mas não sou uma pessoa que quer aparecer. Sou muito na minha e gosto de estar nos bastidores", revela.

Atrás das cortinas

Da infância interiorana, os momentos com a família são revisitados de forma carinhosa. "Adorava ficar com meus avós maternos, Gicela e Francisco, meus fiéis companheiros. Já os paternos, Yerecê e Mário, tinham cinco filhos, contando com meu pai, e cada um tinha mais uns três ou quatro", conta. Essa "primaiada", como ela se refere, costumava se reunir aos domingos para almoçar na estância do vô Mário, que era produtor rural. Além de sair para coletar cogumelos com a avó, as brincadeiras, os passeios a cavalo e os momentos de contação de histórias de feiticeiros eram os programas favoritos dos mais jovens. Dessa época, ela transbordou para a vida adulta a paixão pela fantasia, gênero de filmes e séries que mais se interessa.

Entretanto, das madrugadas assistindo aos clipes da MTV na juventude, acabou não conseguindo trazer consigo o mesmo gosto que tinha pela música, mas admite que é algo que gostaria de "resgatar". Ainda assim, não abre mão das preferências musicais adquiridas ao longo dos anos, como Coldplay e U2 e, no cenário nacional, Caetano Veloso, Jota Quest, Marisa Monte, Nando Reis, Titãs e Tom Jobim. Outras personalidades da cultura brasileira que a encantam são Clarice Lispector e Euclides da Cunha, ambos do campo da literatura. Além deles, o "indescritível" Gabriel García Márquez completa a lista dos autores que mais marcaram Luciana.

Munida de uma estatura com pouco mais de um metro e 60 centímetros, a jornalista ainda se aventura pelo mundo dos esportes desde jovem, quando era levantadora do time de vôlei da escola. Atualmente, tem se dedicado à prática do beach tennis e padel. "Depois que você começa a estudar, trabalhar, depois se casa e tem filhos, a vida muda um pouco. Mas sempre me mantive muito ativa. Agora, como meus filhos cresceram, estou tendo mais tempo para fazer as coisas que gosto", explica. Porém, ela enfatiza que a prioridade número um ainda são o Martim e a Marcela: "Não abro mão de estar com eles".

Com a convicção de que a convivência com a família é o mais importante, Luciana e Mauro não se incomodam em reduzir o tempo de casal para poder estar com os filhos e se orgulham em serem pais presentes. "Se vamos fazer uma viagem ou sair para jantar, sempre encaixamos eles", relata. A parte mais difícil é conseguir levar a dupla para as missas, mas, quanto a isso, a jornalista entende: "Nessa idade, a gente nunca quer ir". Acompanhada da prole ou não, a igreja é um ambiente de paz para ela, que gosta de levar a vida sempre olhando para o lado bom das coisas.

Espremendo limões

Com persistência e muita cara de pau. Foi assim que Luciana começou a desbravar o mercado gaúcho da Comunicação. Formada e sem emprego, não pensou duas vezes antes de pedir ajuda a André Machado, que havia conhecido quando era estagiária na Secretaria Estadual da Agricultura, para entrar na rádio Gaúcha. O colega foi quem abriu as portas para a jornalista chegar até Luciano Klöckner e conquistar a vaga de redatora freelancer para o 'Correspondente Ipiranga'. "Foi muito legal e já deu pra sentir o drama do Jornalismo em ter que trabalhar nos domingos e feriados. Era Carnaval, mas eu estava lá: firme e forte", recorda.

Após uma breve passagem pelo Jornal Já, surgiu a oportunidade de trabalhar na Gazeta Mercantil, jornal pelo qual nutria uma grande dose de afeto, fruto da leitura dos exemplares que seu pai adquiria. Em uma conversa com Hélio Gama, soube que havia uma vaga aberta para a editoria de Agronegócio, setor que possuía enorme familiaridade. "Quando saí da reunião, eu pulava na rua! Olha a sorte!", frisa. Porém, Luciana não pensava em parar por ali, o foco ainda era a redação nacional da publicação. Então, quando surgiu uma vaga em Caxias do Sul para esse trabalho, a jornalista aceitou a proposta logo de cara.

Com 22 anos, viu-se sozinha em uma nova cidade, com uma sociedade "fechada", onde não teve opção além de se dedicar inteiramente ao trabalho. "Fiz do limão uma limonada", declara. Após um ano em Caxias do Sul, retornou para Porto Alegre, onde manteve a mesma função, e, posteriormente, foi convidada para trabalhar na redação da Gazeta Mercantil em São Paulo. Para Luciana, é difícil recordar esse momento sem que a emoção tome conta. Com todas as dúvidas que tinha, sobre ir ou ficar, foi da vó Yerecê que recebeu o empurrão que faltava.

Vinda de uma geração em que as mulheres não possuíam liberdade, a matriarca chegou a ganhar uma bolsa para cursar sapateado na juventude, mas perdeu a oportunidade de correr atrás desse sonho por conta das obrigações familiares. "Ela disse: 'Vai, minha filha, que assim parece que sou eu que estou indo'", lembra, emocionada. Assim, Luciana foi...

Mas voltou

Embora a estadia na redação nacional da Gazeta Mercantil não tenha passado de um ano, devido à crise que ocorreu no jornal no final da década de 1990, ela encontrou uma nova oportunidade em solo paulista na Difonzo Comunicação. Contudo, do mesmo modo que os familiares ofereceram o suporte necessário para que a jornalista fosse desbravar o mundo, também acabou sendo a família o motivo que a fez voltar para o Rio Grande do Sul. Com a morte de dois entes queridos, os cerca de 1.500 quilômetros entre Bagé e São Paulo começaram a pesar.

Foi quando decidiu começar a estruturar o retorno para o Estado, de forma que conseguisse dar continuidade à carreira. Foi assim que a palavra de ordem virou: networking!. Luciana começou a acionar os conhecidos na terra natal, para que já estivesse com alguns trabalhos como freelancer articulados quando chegasse. Também foi capaz de convencer o chefe na Difonzo Comunicação de que poderia seguir exercendo, a distância, o mesmo trabalho que fazia. "Temos que construir relacionamentos, conversar com as pessoas, isso é muito importante", orienta.

Da estadia anterior em Caxias do Sul, onde cultivou esses relacionamentos, conseguiu trazer a vinícola Miolo para ser atendida pela Difonzo. E, mais tarde, em 2004, a fabricante de vinhos se tornou a primeira cliente da recém-nascida Moglia Comunicação Empresarial. "Outras pessoas começaram a me procurar e percebi que podia abrir a minha própria empresa, fazia mais sentido", conta. Para o antigo chefe, não houve problema em perder a conta para uma funcionária que tanto estimava. Em seguida, a Braskem se juntou à carteira da agência, sendo atendida diretamente do quarto de Luciana, que ainda não possuía um escritório na época.

Talento para gerir

Foi nesse momento que a parceria com sua atual sócia, Tais Hens, começou a tomar forma. Cansada de trabalhar em casa, alugou um quarto na casa da amiga, que havia sido sua colega na Gazeta Mercantil. Com o desejo de ser mãe, em 2007 surgiu a proposta para que a colega de profissão se tornasse sócia da Moglia. "Eu queria engravidar, mas eu não parava. Então, dei-me conta que era hora de arrumar uma parceira", revela. Com isso, a companheira deixou o emprego na Gerdau e se tornou um divisor de águas para a história da agência. "Ela sempre foi uma pessoa muito ligada e percebeu uma oportunidade no mercado de vídeo, onde começamos a investir", conta.

Para a jornalista, a amizade que tem com Tais é especial: "Somos muito diferentes e muito parecidas. Nos completamos, respeitamos, celebramos juntas as coisas boas e choramos abraçadas as ruins. Ajudamos uma à outra a dar a volta por cima". Atualmente, outros 20 funcionários da Moglia e cerca de 10 parceiros se somam no atendimento às contas dessa dupla. Luciana admite que ser gestora não é tarefa fácil, mas os talentos que reuniu sob o teto da agência tornam a experiência mais prazerosa. "Estamos no nosso melhor momento em relação à equipe. São pessoas que nos encantam, nunca vimos profissionais tão engajados. Os clientes estão muito satisfeitos", celebra.

Da mesma maneira que o Jornalismo era um cenário improvável para o seu futuro, Luciana não pensava que conseguiria gerir uma empresa e não esconde os erros que cometeu. No entanto, ela sabe o valor de celebrar os acertos e de fazer história. Não aquele tipo de história famosa que se encontra no Google, mas, sim, fazer a diferença na vida das pessoas. Ver a garra dos profissionais que reuniu na Moglia é uma das suas maiores satisfações, e a expectativa para o futuro não poderia ser outra: "Meu sonho é ver, cada vez mais, a minha equipe arrasando, destacando-se e crescendo".

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