Margarida Galafassi: reinventar-se é o sucesso
Publicitária tem uma carreira executiva bem-sucedida, sem abandonar o que lhe é mais caro na vida: o sabor de viver

Ela espera pacientemente enquanto a reportagem enfrenta um trânsito da Zona Sul de Porto Alegre até o início da Zona Norte, onde o encontro foi combinado. "Vem na boa", tranquiliza, pelo aplicativo de mensagens instantâneas. A reportagem chega e encontra uma figura sentada sob a penumbra em um canto do requintado café escolhido para a ocasião. Requintado, porém, contrastante com a simplicidade da pessoa que estava à espera, que se levanta para um caloroso abraço e um sorriso no rosto assim que o encontro ocorre. E seria assim o restante da pouco mais de uma hora de conversa: em meio a sorrisos, alegrias e o olhar de quem se sentia realizada com o que fazia.
Margarida Galafassi tem nome de flor e aparenta ter uma sensibilidade tal qual o ser vivo que a nomeia. Curiosamente, ela não gosta do aroma dessa flor, o que não a invalida perante as demais. Publicitária de formação, ela é sócia-diretora da You.Ad há cinco anos, um hub de adtechs com foco em publicidade envolvente e engajadora. Ao longo da conversa, é perceptível que a carreira é marcada por uma trajetória ascendente e de ousadia. E ela edifica: "Eu não tenho vergonha de me reinventar".
Aos 24 anos, chefe
Nascida em Farroupilha, cidade da Serra Gaúcha, Margarida logo sentiu que o interior do estado era pequeno para ela - ou ainda, numa reformulação da sentença: que determinadas mentalidades e modus operandi eram aquém das potencialidades que ela vislumbrava para si e para seu projeto de vida. Com 16 anos, saiu da casa dos pais e passou a residir em Caxias do Sul, onde começou a cursar Administração. Nesse entremeio, sentia inquietações e uma queixa com relação ao lugar-comum. Não era isso que, definitivamente, queria. Seu objetivo era morar em Porto Alegre. E como, à época, a cidade serrana ainda não contava com o curso de Publicidade e Propaganda, a jovem estudante decidiu migrar para a capital gaúcha, onde mora até hoje.
Margarida deslocava-se diariamente para São Leopoldo rumo à Unisinos, onde fazia o bacharelado. Paralelamente, contudo, ela tocava outra graduação: dividia o tempo com o curso de Relações Públicas, que frequentou, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), durante seis semestres. Formada publicitária em 1992, decidiu abandonar o curso na Ufrgs, pois já trabalhava e os horários não conciliavam com sua rotina. A rotina profissional iniciou com oportunidades na área de Marketing, pendendo, na sequência, para a publicidade. Ela trabalhava em agência, na época, e um dos clientes, a empresa de oleaginosas Olvebra, buscava estagiários a fim de compor o time. Não demoraria para a indicação de Margarida concretizar-se. "Eu queria ser executiva de Marketing. Esse era o meu sonho", conta. O futuro e a desenvoltura trataram de costurar o tecido por inteiro: ficou por quatro anos na empresa, entrando como estagiária e saindo como coordenadora de marketing, quando tinha 24 anos de idade. A passagem pela Termolar veio na sequência, onde também coordenou a estratégia e da qual se orgulha de ter participado do lançamento da primeira garrafa de inox da empresa.
Autenticidade compõe seus propósitos. Nesse ínterim, a profissional se orgulha de ter participado do lançamento não apenas de campanhas ou de novas peças publicitárias, mas também da elaboração da ideia de conceitos que, até então, eram novidade no mercado. Por exemplo, na Termolar, implantou o modelo de coleções de produtos. O movimento é uma de suas marcas, ao promover lançamentos conceituais novos ou releituras de aspectos antigos sem deixar de entregar-se aos desafios que a vida lhe propôs.
Com isso, uma das experiências profissionais mais marcantes foi o período em que residiu em Recife a serviço da Josapar, de Pelotas, para o lançamento de um produto de valor agregado cuja base era leite em pó à base de soja. O mercado identificado para tal empreitada era a Região Nordeste, e assim, em 1998, a publicitária apoiou os esforços para as vendas dessa modalidade de produto. E, apesar de não ter formação específica na área de Administração correlacionada às Ciências Econômicas, aprendeu dentro das próprias organizações a gerenciar recursos e insights coordenados entre estratégias e finanças.
Um fator além do sonho era o desejo de trabalhar com algo específico: alimentos para animais domésticos. Particularmente, a atenção era capturada pelos produtos da Fröhlich, que tomavam parte de seu imaginário. Apesar de estar residindo em um local paradisíaco e de destino de férias, sentia falta das suas origens, na parte sul do país. A oportunidade de ouro apareceu quando a Mars, empresa que compila diferentes produtos do ramo alimentício, delegou a ela a missão de resgatar um produto que estava à beira de sair de linha e necessitando de uma reformulação de marca.
Tratava-se da linha de pet food Pedigree. Ela era a publicitária em meio aos médicos veterinários, o que lhe conferiu um aporte diferenciado de experiência e de combinações, uma vez que se compilaram os conhecimentos da área da Comunicação e as necessidades que advinham do mundo animal. Não demoraria muito e Margarida foi convidada a assumir toda a linha de pet food da empresa para a América Latina, o que provocou uma nova mudança - desta vez, para São José dos Campos, no estado de São Paulo.
Seus feitos profissionais incluem o rebranding da Whiskas, que na época, sofria um desgaste de imagem por uma associação do consumo dos produtos da marca a supostos problemas renais nos felinos. Ela conta que uma concorrente da época lançou um slogan que contrastava com a ideia e que, rapidamente, a equipe da Mars precisou agir para conquistar o seu lugar definitivo no mercado.
Segundo ela, a equipe produziu em menos de uma semana toda a campanha, em uma corrida contra o tempo que culminaria no famoso slogan que, até hoje, posiciona a Whiskas como uma das lideranças do mercado de pet food: 'Oito de cada 10 gatos preferem Whiskas', enunciado de que ela também manifesta orgulho de ter sido uma das formuladoras.
A flor que abriu uma floricultura
Margarida Galafassi demonstra versatilidade em sua profissão e para os negócios, indo da estratégia ao gerenciamento de rentabilidade, da administração de campanhas à gestão de valor. O extenso currículo também inclui passagens por agências como Competence, Matriz e Paim. À frente da gerência de negócios de multinacionais, o desafio para ela, ao iniciar o trabalho em agências, era realizar o caminho inverso, pois até então havia sido cliente desse tipo de empresa enquanto gestora.
"Eu tinha a prática do branding, mas não tinha a teoria", explica, e esse processo de aprendizado possibilitou que abrisse sua própria consultoria, no futuro. Os processos de formação de marca e de consolidação de ideias despertaram nela um desejo de empreender e de lançar-se ao mercado com novidades.
Floricultura. Esse foi o empreendimento que lançou na Rua Padre Chagas, no Pátio Ivo Rizzo, em um exercício de construir uma marca própria. Fez cursos de paisagismo e de arte floral em São Paulo, além de estudar na Europa conceitos de floricultura aberta, com exemplares na calçada, acessíveis ao público. A proposta era implementar algo similar em Porto Alegre, e assim, abriu as portas de seu próprio espaço, que tocava paralelamente aos trabalhos na publicidade. Ela brinca, aos risos: "E meu nome é Margarida!". A profissional revela que o faturamento do negócio era modesto, porém, diz que foram tempos divertidos.
O destino, para ela, converge para um ponto que não distingue vida pessoal e profissional, sendo aspectos correlatos e que conferem, tanto à sua personalidade quanto ao modo de fazer gestão, versatilidade, apuração e coragem para o enfrentamento de novas perspectivas.
Na ocasião de uma viagem a São Francisco, nos Estados Unidos, reencontrou seu antigo amor. Ambos decidiram retomar o namoro e formalizar a união, indo morar no noroeste da Argentina, em San Miguel de Tucumán, onde ficaram durante três anos. Na ocasião, chegou a trabalhar com marketing esportivo, produzindo eventos para o time local. O marido era proprietário de uma rede de salões de beleza, para a qual ela também realizou ações de estratégia e divulgações.
Já de volta a Porto Alegre, outra ação liderada pela publicitária foi a implementação do rooftop da Loja Lebes da Avenida Borges de Medeiros, no Centro de Porto Alegre. A ação, bem-sucedida, gerou engajamento e rendeu um prêmio Top de Marketing ADVB/RS.
A resiliência de ser autêntica
Sutileza é uma marca dessa profissional que oferece, com um sorriso, o compartilhamento do vasto currículo e de larga experiência com branding. Por três anos, gerenciou a própria consultoria de construção de marcas comportamentais e, desde 2020, Margarida é representante, com exclusividade no Brasil, de adtechs com foco no engajamento e na atenção. Ela ressalta ser fundamental refletir sobre a economia da atenção, em tempos em que as publicidades e redes aceleram os percursos digitais. E, nisso, é necessário versatilidade.
Autenticidade e honestidade são valores que a guiam para além do que entrega em suas rotinas profissionais: são objetos de vida. "Tenho de sentir verdade para entregar", comenta, apostando em fruições genuínas para os relacionamentos que estabelece ao longo da vida e com o cotidiano de trabalho. E, nisso, a publicitária afirma um compromisso com o respeito à diversidade e às mais distintas formas de existência.
Aos 56 anos, a energia continua plena para contribuir, gerir e, simultaneamente, aproveitar o que a vida tem a oferecer. Conta, entusiasmada, que está prestes a embarcar para Estocolmo, onde iniciará uma temporada na Europa de aproximadamente dois meses. Revela que é vegetariana e que nunca comeu carne vermelha em sua vida - a exceção são as carnes brancas. O vinho branco para acompanhar é o toque diferenciado.
Musicalmente eclética, tem destacado uma rotina mais dedicada ao lounge e ao rock argentino, demonstrando rotatividade em suas playlists. E, como mais uma de suas atividades, tem participado da administração da Casa Mina & Fióri, uma pousada com restaurante, café, espaço para eventos e que oferece uma experiência de tranquilidade em sua cidade natal.
É possível perceber, em uma simples conversa com Margarida Galafassi, uma pessoa determinada, dedicada e que consegue imprimir um toque de leveza à forma como encara as situações. Ela não tem medo de experimentar novidades, de arriscar ou de realizar mudanças, entendendo que estas fazem parte dos processos. Resiliência? Ela mesma responde: "Sempre fui aceitando os desafios". E, nessa linha, evoca a fábula d'A Cigarra e as Formigas: "Eu sempre fui mais a cigarra", mas não no sentido de ausência de trabalho, como sua vida laboral provou em contrariedade. É com o significado de poder trabalhar, ter uma carreira bem-sucedida, reinventar-se e, ao mesmo tempo, divertir-se, ser feliz e fruir com o que a vida pode oferecer. É como uma flor de margarida que brota em meio ao campo.