Roberto Rodrigues: O repórter do Carnaval

Profissional tem a preocupação de passar corretamente o que deseja expressar, mesmo que o papo seja informal

O retrato do exímio comunicador: talvez esteja nessa frase uma das principais definições que se pode ter de Roberto Rodrigues. Trata-se daqueles profissionais que têm a preocupação de passar corretamente o que deseja expressar, mesmo que o papo seja informal. Ele faz questão de "abrir gavetas", a fim de explicar tudo e não deixar nenhuma ponta solta. "Eu sou muito perfeccionista. Se perguntar para antigos colegas, eles podem confirmar", afirma.

Roberto é do time que está acostumado, desde muito cedo na profissão de Jornalismo, ao movimento constante que a atividade exige. Por volta dos anos 1970 e 1980, ele fazia a produção de programas, escrevia na redação, assessorava, atuava em locução de programas e reportava no rádio e na TV. Mas foi o Carnaval de Porto Alegre e a paixão pelo festejo que deram a ele as maiores aparições e o reconhecimento regional e nacional, intitulado por: "o Repórter do Carnaval".

Com passagens por veículos de Comunicação, vide: rádio Gaúcha, rádio Guaíba, RBS TV, TVE, Manchete, Rede Globo, entre outros, o jornalista acumula mais de 45 anos de profissão, onde atuou, ainda, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, como coordenador e gestor de Comunicação, bem como assessor de imprensa. No período de 2016 a 2019, foi um dos locutores do programa 'Voz do Brasil'.

Além disso, durante esta longa jornada, por mais de 25 anos, foi professor universitário, nas disciplinas de Telejornalismo e Rádio. Ele lecionou na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e no Centro de Ensino Unificado de Brasília (CEUB), por 19 anos. Nos dias atuais, mesmo aposentado, Roberto Rodrigues não para.

Ele também é psicanalista e atende, junto com um grupo de profissionais negros, diversos pacientes. E mesmo com uma vida agitada, encontra tempo para escrever artigos para um jornal do Distrito Federal. Apesar de aberto ao diálogo, o jornalista prefere preservar os nomes das pessoas que fazem parte da sua vida. Isso porque ele gosta de ser conhecido por meio de sua trajetória profissional. 

Origens

O gaúcho, radicado em Brasília, nasceu e foi criado no bairro Petrópolis, em Porto Alegre. De uma infância tranquila e afetuosa, Roberto brincava com os amigos da escola e do bairro. No entanto, era mais ligado à parte adulta da família, uma vez que acreditava ter mais afinidade. "Uma das minhas frustrações era eu não saber jogar futebol, sempre fui escolhido por último", conta, aos risos.

Os pais, funcionários públicos do Estado, puderam dar uma boa vida ao jovem, filho único do casal. A mãe atuava como servente e o pai, servidor da Secretaria da Educação. No entanto, existiu uma terceira pessoa que, segundo Roberto, foi fundamental para sua criação: a madrinha. Ela era professora e o ajudou na alfabetização, antes mesmo de entrar na escola. Além disso, ele pôde aprender com ela a língua alemã, uma vez que era fluente, por ser natural.

Ainda criança, a paixão pela Comunicação já se fazia presente. Ele lembra que existia, na rádio Gaúcha, um programa infantil, onde se tinha um auditório com jovens convidadas ou sorteadas para prestigiar a atração. "Sempre que podiam, os meus primos me levavam", comenta. Ali, observaram-se os primeiros passos para o início da profissão.

Comunicação

Após concluir os estudos regulares, não teve dúvida na escolha da faculdade. Roberto sabia desde o começo que queria ser jornalista de rádio e TV. Por volta do início dos anos 1970, pessoas do seu convívio o aconselhavam a não cursar Jornalismo, visto que seria uma profissão mal remunerada. "Por eu ser negro, esses comentários surgiam com o intuito de me proteger, pois eu seria o único repórter de pele escura a aparecer na TV", lamenta.

Mesmo assim, não foi empecilho para que seguisse o sonho. Roberto ingressou, então, na Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos), da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Ele recorda que já nos primeiros dias ficou fascinado pelos estúdios de TV e rádio. "Eu não tinha essas aulas ainda, mas eu pedia permissão para ficar ali dentro, observando tudo", conta.

Mais para o meio do curso, o jornalista passou a atuar, como produtor, na TV Gaúcha (atual RBS TV) e, mais para frente, assumiu como repórter na rádio Gaúcha. "Logo de início abriram muitas portas que me oportunizaram aprender e a ganhar experiências." Na época, na TV Difusora, antes de se tornar Bandeirantes, recebeu o convite para ser comunicador do veículo e isso, por sua vez, teve impacto para sua saída da Gaúcha.

Na nova emissora, passou a apresentar o programa 'Portovisão'. "Eu recebi muito apoio dos meus amigos: José Antônio Daudt (falecido), Magda Beatriz e Tânia Carvalho, extremamente experientes e que me passaram todas as dicas necessárias", lembra. Nesse momento da carreira, o profissional foi escalado, também, para fazer a cobertura do Carnaval de Porto Alegre. 

Carnaval que corre nas veias

O Carnaval surgiu na vida de Roberto Rodrigues quando ele ainda era criança. Desde pequeno, observava os familiares construírem fantasias para desfilar nas extintas tribos carnavalescas. "Aquilo era um hábito", recorda. Um dos momentos marcantes, ainda jovem, era o Carnaval de rua da Vicente da Fontoura, considerado uma dos mais importantes da época. Naquela ocasião, ele já pegaria apreço pelo evento.  

Aos 16 anos, desfilou, pela primeira vez, na Imperadores do Samba. "Foi a escola que me atraiu." Ali, pôde se aproximar, ainda mais, com o segmento e conheceu personalidades importantes, fundamentais para os ensinamentos carnavalescos. Um exemplo é o Carlos Alberto Roxo Barcellos, carnavalesco importante, que se tornou nome da principal passarela de samba da cidade. "Além dele, o meu primo era mestre de bateria de diversas escolas e isso me fez ganhar um carinho maior ainda."

Ao ingressar na imprensa, soube carregar o amor pelo Carnaval nos microfones. Um dos marcos da sua carreira foi na TVE. Em um desmonte da Band, todos os jornalistas foram contratados pela emissora pública. Ali, além de continuar a ser repórter, apresentou o programa 'Muamba', uma das referências do segmento.

A paixão pelo Carnaval é tanta que, após cumprir a cobertura de Porto Alegre, ele pegava voos para o Rio de Janeiro, a fim de conferir os desfiles das campeãs. "Eu sou aficionado por essa cidade, considero-me um gaúcho carioca", relata. Ele também teve a oportunidade de trabalhar na "Cidade Maravilhosa". O jornalista recebeu um convite de um amigo para atuar na Rede Globo. "Nem pensei duas vezes, só fui."

Nas coberturas do Carnaval, uma das histórias engraçadas que ele recorda foi em uma ocasião em que o seu profissionalismo foi colocado em jogo. Ao vivo, enquanto passava o boletim, uma pessoa chegou por trás e apertou a bunda dele, que se desequilibrou e levou um susto. De improviso, chamou a pessoa e realizou uma entrevista com ela. "O nome dela é Terezinha Morango, uma figura icônica do Carnaval de Porto Alegre", rememora, aos risos. 

A passagem pelo evento tem várias recordações. Roberto Rodrigues foi convidado a se tornar jurado do Carnaval, tanto na capital gaúcha, quanto no Rio de Janeiro. O profissional foi um dos responsáveis por criar o avaliador de percursos, que passa, ao lado, acompanhando a escola durante todo o desfile. 

Ensinamentos da carreira

Roberto Rodrigues se considera uma pessoa realizada na carreira, pois conseguiu fazer tudo que tinha vontade na profissão. Com toda essa experiência, ele recorda de ensinamentos que obteve de amigos, colegas e chefes na profissão. Apesar de ter uma carreira consolidada e uma boa aposentadoria, o jornalista ainda procura aprender sobre os novos movimentos da profissão e se atualizar com pessoas do mercado. "Uma das coisas que mais gosto de fazer é conversar por chamada de vídeo. Aqui consigo me conectar com tudo", resume.

Além do mais, aproveita os tempos livres para ler livros e escrever reflexos no Facebook, rede social que o comunicador mais utiliza. O profissional considera que essas atitudes são fundamentais para o ser humano, pois foram essas decisões que o tornaram um bom jornalista. Ouvir pessoas, tanto elogios quanto críticas, é fundamental.

Ele lembra de uma crítica construtiva que recebeu ainda jovem. "Uma chefe chegou em mim e disse que, apesar de estar indo bem, faltava muito para se comparar com os outros repórteres", conta. Essa conversa fez com que tomasse outras atitudes, o que levou de ensinamento para a vida inteira. Pragmático, Roberto Rodrigues não gosta de projetar o futuro, uma vez que está sempre em movimento. No entanto, ao analisar no que gostaria de fazer daqui a 10 anos, responde: "Escrevendo meus artigos de opinião".

Com 45 anos de profissão, Roberto considera ter tido muitos ensinamentos e é grato por todos que recebeu. Mas as referências são aquelas que, de certa maneira, o ajudaram a trilhar um caminho. Ao iniciar pela madrinha e pelos pais. Logo após, vêm os amigos, chefes e todos os professores. "Foram pessoas incríveis com quem que tive o privilégio de aprender", finaliza.

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