Diversidade e Comunicação: Lelei Teixeira luta pela equidade
Jornalista é autora de artigo no 'Dia Nacional de Combate ao Preconceito contra as Pessoas com Nanismo' e conversa com Luan Pires
Com uma trajetória constantemente alinhada com a Cultura, Assessoria de Imprensa, Produção, Literatura e diversidade, Lelei Teixeira trouxe um lado para essa entrevista que vai além da TV, rádio e impressos. Mas de uma visão de luta com uma palavra que complementa a diversidade: equidade.
Tu viveu e expressou muitas experiências na tua vida. Tu ocupou muitos espaços na tua trajetória. Mas, houve um momento da tua história que foi importante como marca para entender a sua individualidade no espectro da diversidade?
No início, quando meus pais descobriram que eu e minha irmã tínhamos nanismo, o médico falou uma coisa muito importante: coloquem essas crianças no mundo. Porque minha mãe contava que ela ouvia muito das pessoas que ela deveria nos colocar num convento. Mas, pelo contrário, tivemos apoio e saímos para o mundo. Mas sobre o mercado de trabalho, não lembro de uma situação em si. Mas lembro-me de me incomodar muito com a hipervalorização que eu sofria, quando diziam: "Bá, essa guria tem o melhor texto da cidade". Eu sei que escrevia bem, como muitos jornalistas. Mas me incomodava porque demonstrava que para a pessoa que estava convivendo comigo naquele momento, aquilo era espantoso.
Era quase como se precisasse de uma necessidade de compensação?
Exato. A palavra é essa: Compensação. Como se quisessem compensar. É a mesma sensação de quando falam em "superação". Não gosto dessa palavra. Eu não tenho que superar meu um metro e 10 centímetros. Eu tenho essa altura. Ponto. A minha inteligência não é maior que a de todo mundo. As pessoas só têm dificuldade em lidar com o fato de que uma pessoa com a minha altura pode fazer as coisas como todo mundo faz. Melhor ou pior. Independentemente de como faça. Vou ter mais ou menos dificuldade, mas nada me impede.
E de algum modo, essa hipervalorização te coloca como algo que destoa do espaço que tu está ocupando.
Sim. O preconceito não quer te ver naquele cenário. No meu caso, era como se dissessem: como tu, com nanismo, chegou a ser chefe na TVE? É uma hipervalorização que vem do espanto. É uma linha tênue entre se mostrar igual, mas também olhar para as particularidades de cada um.
A minha busca sempre foi para que as pessoas me vissem com capacidade, independentemente de qualquer coisa. O que está em jogo não é se eu sou boa ou não, eu posso ser ou não ser, a questão é se eu sou capaz. E o meio pode ajudar nisso. Quando alguém se espanta com o jeito que tu faz as coisas e fica comentando é chato, como se fosse espantoso ser capaz. Eu procuro sempre ressaltar isso pras pessoas. Por exemplo, na rua, crianças que me veem curiosas e param os pais? É normal. Afinal, sou do tamanho delas, mas estou andando na rua, falo de maneira articulada? Sempre digo para os pais não brigarem com os filhos, mas entenderem a curiosidade. E eu sempre explico com calma: que apesar do tamanho e das características diferentes, sou uma pessoa, eu vivo, tenho autonomia e isso é libertador para crianças e pais. Porque o nanismo provoca uma reação ruim, de deboche e piada. Cabe a gente diminuir isso aí. Porque eu já ouvi coisas bem chatas na rua porque sempre a palavra "anão" foi utilizada para depreciar. E eu sempre luto contra isso.
E dentro das empresas, como lutamos?
Existe uma lei de acessibilidade e inclusão, teoricamente todos temos direito. Mas a empresa precisa possibilitar isso. Mas, além da questão física do ambiente, eu acho que é muito importante trabalhar as pessoas. Os funcionários precisam ser treinados. Não pode, no meu caso, ter uma ação agressiva e me pegar no colo pra me levar pra um lugar. As pessoas têm que entender que somos iguais, mas temos necessidades distintas. E isso é normal. Eu acho que as empresas, os meios de comunicação como um todo, hoje, respondem a uma demanda por compromisso porque caso contrário seria complicado para eles. É o nosso movimento que impõe a inclusão, ainda não é natural. Não é, em geral, uma iniciativa das empresas. É uma resposta a um movimento que construímos. A Lei de Acessibilidade e Inclusão é bárbara, todos precisam conhecer. Leis existem para serem cumpridas.
Acredito que no cenário político/social onde as pessoas estão mais à vontade a dar vozes aos seus preconceitos, independente do grupo identitário, viver, trabalhar, ter uma rotina já se torna resistência. Tu enxerga isso?
Sim. Na rua, por exemplo, sempre vai ter um comentário. Mas não posso reagir a cada espanto porque senão vou ficar me defendendo e não vivendo. Mas, temos que apontar as situações preconceituosas sempre. Muito bom isso que tu está trazendo desse olhar amplo. Porque as minorias têm uma visão de mundo único e que ainda possibilita libertar o olhar um dos outros para juntos libertarmos o olhar da sociedade. De vivermos a nossa autenticidade seja ela qual for. A diferença é fascinante, poder olhá-la com olhos livres é de um aprendizado único.
Para finalizar, o que é diversidade para ti?
As minorias precisam de condições para ter autonomia e acesso às oportunidades. Diversidade pra mim é abrir esse horizonte e ver que é possível. É fazer a Lei ser cumprida e que todos os espaços sejam inclusivos.
Esta matéria faz parte de um conteúdo especial sobre diversidade e Comunicação, produzido por Luan Pires para Coletiva.net. Todas as sextas-feiras, o jornalista publica uma entrevista exclusiva com o articulista do dia. Para conferir o artigo de hoje, assinado por Lelei Teixeira, clique aqui. Excepcionalmente, o texto foi publicado nesta terça-feira, 25.