Gaúcha Natália Leal recebe prêmio do ICFJ por combate à desinformação

Comunicadora foi a terceira brasileira a receber a honraria do Centro Internacional para Jornalistas

Natália Leal - Crédito: Léo Lemos, Divulgação

A diretora de conteúdo da Agência Lupa, Natália Leal, foi escolhida pelo Centro Internacional Para Jornalistas (ICFJ, na sigla em inglês), para receber o Prêmio Knight Internacional de Jornalismo de 2021. A honraria é concedida a jornalistas cujo trabalho pioneiro e inovador na mídia tenha impactado a vida das pessoas em seus países ou regiões.O prêmio, entregue na última terça, 9, coloca a gaúcha na lista dos três brasileiros a receber a distinção. 

Natália foi reconhecida por seu trabalho no combate à desinformação a partir do fact-checking e da educação midiática. O ICFJ também ressaltou a atuação da jornalista no desenvolvimento da ferramenta 'No epicentro', visualização de dados sobre Covid-19 feita pela Lupa em parceria com o Google News Initiative, premiada internacionalmente e reproduzida pelo The Washington Post nos Estados Unidos.

A equipe de Coletiva.Net conversou com a jornalista premiada. Confira abaixo a entrevista. 

1- Qual é a dimensão de ganhar este reconhecimento internacional? 

É quase inacreditável e muito significativo! Sou a primeira fact-checker no mundo a ganhar o prêmio. Eles premiaram também a Maria Ressa, que ganhou o Nobel, mas ela não é checadora, ela dirige um veículo que tem uma unidade de checagem, então, sou a primeira pessoa da comunidade de fact-checker a receber o prêmio. Ele dá um indício da preocupação com que o mundo vê a atividade jornalística no Brasil hoje, o quanto ela está ameaçada, o quanto ela é importante para sustentar a democracia e levar informação de qualidade. Estamos vivendo em perigo, com ameaça constante a jornalistas, e com muita desinformação, principalmente diante da pandemia. 

2- Como você se sentiu com esta conquista?

É muito gratificante ter o trabalho do qual faço parte, porque esse é um prêmio da equipe da Lupa, reconhecido. Me ver ao lado do Bill Whitaker e Anne Applebaum, que é uma jornalista fantástica e, ao lado da repórter investigativa da República Tcheca Pávla Holcová, com quem eu divido o prêmio Journalism Awards, é sensacional! Por ser mulher, não importa a carreira que temos, a gente tem a ideia de que somos uma fraude. Todas as mulheres passam por isso e com jornalistas mulheres não é diferente. Então, receber esse prêmio me deu a certeza de que eu estou no caminho certo e que meu trabalho é importante. 

3 - Como foi a sua trajetória até chegar na Lupa?

Eu me formei na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 2009. Durante a faculdade comecei a estagiar na Bandeirantes, no Terra e depois trabalhei durante cinco anos na Zero Hora. Passei pelo Diário Catarinense, em 2015, e enquanto estava lá, eu fiz um curso da Lupa. Eu já conhecia a checagem e estava ambientada com as empresas de checagem, como a Agência Pública, o Truco, Aos Fatos e comecei a me interessar por esse tema. 

Antes de sair do Diário, eu deixei estruturada uma unidade de checagem local, da NSC, antiga RBS. Tive uma breve passagem pelo Poder 360, em Brasília, até ir a um Congresso no Rio de Janeiro, onde encontrei a Cristina Tardáguila, com quem eu tinha feito o curso da Lupa. Ofereci-me para uma vaga e, em 2017, fui contratada como editora, até virar diretora de Conteúdo em 2019, e chegar ao cargo de editora-executiva em 2021.

4 - Você já sentiu medo por exercer o seu trabalho? 

O medo sempre existe! As ameaças são constantes para todos os jornalistas e para os fact-checker mais ainda. Todos os dias as pessoas questionam o que a gente faz, inclusive a legitimidade do que fazemos, nos acusando de querer moderar discursos, determinar o que é verdade e o que não é. E esse não é nosso papel, o que a gente faz é aumentar o custo da mentira, tornar mais difícil o trabalho de quem consegue distorcer informações. 

O  fact-checking é uma espécie de compliance da sociedade, somos transparentes em relação às fontes, metodologia, quem financia, mas, apesar de tudo isso, temos nosso trabalho questionado. De 2018 pra cá, isso se intensificou muito. Por isso temos medo, de ameaça, de ataque físico, de assédio judicial, pois tem acontecido muito e assusta bastante. 

Como mulher, eu recebo todos os dias e-mails de pessoas me xingando e me ofendendo. Pessoalmente, não só ao meu trabalho e eu percebo que isso não acontece na mesma medida aos colegas homens. Às vezes, tenho essa fantasia, de que vou andar na rua, ser reconhecida e atacada. Parece distante, mas me desperta medo. 



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