Alessandro Carlucci: Movido pela criatividade

Head de Criação da agência Kreativ, publicitário recorda com orgulho da trajetória e revela sonho de escrever livros

Em cada campanha, há uma fagulha de inquietação. Para Alessandro Lages Carlucci, 52 anos, a Publicidade nunca foi apenas um ofício, é o resultado natural de uma curiosidade que atravessa tudo o que faz. Head de Criação na Kreativ, ele carrega na trajetória mais de 30 anos em agências e projetos que moldaram sua forma de pensar a comunicação. O currículo tem nomes de peso como Paim, Global, Dez, Happy House, HOC e GAD. 

Poderia ser historiador, pesquisador de história, economista ou até psicólogo. "Acredito que, por ter vários interesses, acabei virando publicitário. Trabalhar com Criação exige pessoas com múltiplos interesses", enfatiza ele, que se formou em Publicidade e Propaganda pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e é pós-graduado em TI User Experience pela Uniritter. 

Ainda estudante, foi a insistência e um pouco de teimosia que abriram sua primeira porta de trabalho. Ligou, por meses, para o dono da Paim pedindo estágio. "Podemos dizer que venci pelo cansaço", brinca. Quando finalmente foi chamado, imaginava ficar apenas algumas semanas, mas a experiência durou sete meses, tornou-se redator júnior e viu, com alegria, ideias publicadas até em Zero Hora. "Foi uma escola de criatividade incrível", destaca ele, que desde então nunca mais ficou fora do mercado de agências. 

Inspiração e aprendizados

Nascido em Porto Alegre, o filho do Attilio e da Flávia cresceu ao lado dos irmãos Cristiano, que é dentista, e Leonardo, piloto de avião. Além das próprias características que pendiam para o lado da Comunicação, Carlucci foi inspirado a trilhar o caminho da PP pelo tio Giba Lages, de quem, mais tarde, se tornaria colega de profissão. E, olhando para trás, percebe que foi num dia da infância em que a mãe o deixou na agência do tio que ele foi "picado" pela Publicidade. "Fiquei desenhando junto com os criativos. Eles conversavam, desenhavam e riam. Me pareceu ser um lugar bem divertido", conta. 

E, mesmo tantos anos depois, ainda tem o mesmo objetivo do jovem sonhador: continuar tendo ideias criativas e estratégicas, que contribuam para resolver os problemas dos clientes. Entender a necessidade das marcas e propor soluções que chamem atenção e deem resultados, para ele, segue sendo o mesmo desafio do início da carreira. 

"Defina, mas não seja definitivo", foi a resposta dada por Carlucci à pergunta "Uma definição sua?". De coração aberto, guarda na memória uma crítica que virou lição. Produziu um jingle e achou que estava bom. Quando apresentado à cliente, ela disse que não aprovaria, pois sabia que ele podia mais. Ela estava certa. A sugestão seguinte foi muito mais criativa e impactante. 

Os elogios também são bons combustíveis para nunca parar de exercitar o melhor de si. Em uma oportunidade de férias, foi a São Paulo estagiar por duas semanas com o tio, que trabalhava em uma das melhores agências do País, a W/Brasil. Um dos redatores, Ruy Lindenberg - ídolo de Carlucci, diga-se de passagem - perguntou se o jovem queria ajudá-lo em alguns trabalhos. Após a dedicação, recebeu feedback do colega e agradeceu. "O atendimento da conta veio olhar o material e disse: 'Genial, Ruy. Só você mesmo'. No que o redator apontou para mim e disse: 'Agradece ao garotão ali. Ele que fez tudo'. Ter meu trabalho comparado com um dos meus heróis, logo no início da jornada, foi inesquecível", ressalta. 

Outra relação de longa data

Pai do engenheiro de software Pedro Kinnemann Carlucci, 24 anos, é casado pelo mesmo tempo com a professora Maria Fernanda Kinnemann, que conheceu em uma festa de amigos em comum. "Festa da prima da namorada de um amigo." Ou seja, daquelas coisas que eram pra ser, sabem? Em casa, a rotina ainda é dividida com o restante da família, formada por três cachorros, um cágado e 11 peixes. O dia a dia consiste em acordar, se exercitar e ir para a agência criar.

À noite, é hora de recarregar as energias. Nos momentos de folga, gosta de correr por Porto Alegre, ler, cozinhar e passear com a família. Se tivesse que nomear apenas um hobby, que não tem como fugir da curiosidade, diria que é descobrir novas bandas e músicas.

Seu gosto musical é amplo, mas o rock é trilha constante. Vai do metal ao jazz, passando pelo samba e pela MPB. Também é apaixonado por cinema, de produções frenéticas a filmes de arte, eclético. Torcedor do Internacional, também é fã de outros esportes, como Fórmula 1, basquete, tênis e atletismo. 

Sonho

Orgulhoso do que já realizou, segue com vontade de mais. Ajudar pessoas e clientes através de ideias relevantes é sua missão, mas um outro sonho divide o espaço em seus pensamentos. "Gostaria de escrever um ou mais livros. Vamos ver quando esse desejo vai ficar tão intenso que virará uma prioridade", adianta. 

Como leitor, tem preferência pela literatura brasileira, mas também se interessa pela estrangeira, assim como biografias, quadrinhos e livros técnicos voltados para negócios, história, mitologia, música e outros assuntos. 

No Instagram, o olhar afiado é notado pelas fotografias artísticas que, com suas cores e formas, falam sem precisar dizer nada. A propósito, referência, em sua opinião, é o combustível para quem trabalha com criatividade. É necessidade e prioridade. "Quanto mais referências, maior a capacidade de fazer associações", pontua. Além das coisas materiais e subjetivas, também tem referência em pessoas que o fazem refletir e querer evoluir. 

Transformações

Com a chegada da inteligência artificial, sabe que o mercado da Comunicação muda de maneira cada vez mais acelerada. Enxerga a IA como um marco divisor. Apesar disso, não consegue fazer uma previsão do que estará ou gostaria de estar fazendo nos próximos 10 anos. Porém, espera continuar sendo útil, inovando, realizando bem aquilo que só o ser humano ainda é capaz de fazer, a essência da boa ideia. 

A capacidade de se colocar no lugar dos outros é o que classifica como sua principal qualidade. E isso serve tanto para a vida pessoal quanto profissional. Acompanhando as transformações e prestando atenção às novas demandas dos clientes, pode fazer entregas mais relevantes e solucionadoras. Seu lema é "Conheça a si mesmo, mas não se leve muito a sério". Reconhece também seus defeitos, especialmente a dificuldade em dizer não. 

Não teme o futuro nem as mudanças. Pelo contrário, adora descobrir e conhecer o novo. E é justamente essa mistura da mente criativa que o torna, além de um criador de ideias, um construtor de pontes, entre pessoas, histórias e formas de ver o mundo. 

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