Ivan Mattos: A vida só tem sentido com amigos, Cultura e viagens
Além de colunista social, jornalista tem orgulho em ser um produtor de conteúdo
O convívio com personalidades da música brasileira na infância colaborou com o caminho seguido pelo hoje colunista do Jornal do Comércio, Ivan Cunha Mattos Filho. Se hoje a Cultura integra as pautas dos textos, aos seis anos, ele convivia com músicos como Clara Nunes, Elis Regina e Paulinho da Viola. Essa vivência foi possibilitada pelo padrinho José D'Elia, locutor comercial do 'Clube do Guri' e radialista da Farroupilha e Gaúcha. "Eu cansei de ir pra rádio com ele, ficava no colo dele, enquanto ele estava no ar", recorda o comunicador, que também disse que acompanhava shows e programas na TV Piratini com o familiar. "Tudo o que eu conheço sobre música e que eu gosto de canção veio do meu padrinho."
Nascido em 1º de maio de 1963, quinto filho de Ivan e Glaci Cunha Mattos, ele é o único a seguir os passos do tio. Atualmente, o profissional possui dois irmãos vivos, visto que a mais velha e o do meio já faleceram. "De repente, eu comecei a gostar de informar as pessoas, de contar as coisas que eu via, e até hoje continuo fazendo isso no Jornal do Comércio", explica sobre a escolha da profissão. Antes, porém, de ir para o Jornalismo, o jovem de 19 anos entrou no teatro, em 1982, e integrou as companhias Descascando o Abacaxi, de Luciano Alabarse, e Teatro Vivo, de Irene Brietzke. Chegou a exercer os dois papéis ao mesmo tempo. Em 1993, mudou-se para São Paulo, onde trabalhou com Artes Cênicas no SBT. Caso não tivesse ido para o Jornalismo, teria seguido essa carreira. A opção por se dedicar integralmente à Comunicação veio por perceber que precisava ganhar dinheiro. Em busca de oportunidade para retornar ao Rio Grande do Sul, em 1995 começou a trabalhar com Paulo Gasparotto na Zero Hora e ficou até 1996.
Caminho para a coluna social
A história no Jornalismo começou na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), onde se graduou em janeiro de 1985. Em março do mesmo ano, já estava na RBS TV, o primeiro emprego na área. Na emissora, produziu e fez reportagens para programas como 'Jornal do Almoço', 'RBS Revista' e 'TV Mulher'. Apesar de adorar as tarefas, também considera o setor desgastante. "A televisão é uma máquina de fazer loucos", brinca. No telejornal, gostava de fazer entrevistas na rua. Mesmo depois de deixar o conglomerado midiático, em 1986, retornou algumas vezes para projetos pontuais, como o Carnaval na extinta TVCom. No veículo, lembra-se do convívio com Lygia Tricot e Roberto Appel.
Falar de colegas e amigos, aliás, para ele é fundamental, pois acredita que "a vida é um somatório de pessoas que tu conheceste". O comunicador se orgulha também de, apesar de se considerar "meio brigão", nunca ter confrontado ninguém no âmbito profissional. Nesse sentido, também destaca Alice Urbim, Carlos Kober, Claro Gilberto, Cunha Júnior, Gilberto Perin, Maria do Carmo e Vera Armando. Alguns, em especial, tornaram-se amigos e referências. Além dos parceiros de trabalho, Ivan crê que conhecer pessoas de outras áreas é outro fator bacana da profissão, como artistas, cantores, políticos e escritores, muitos com os quais também mantêm amizade.
Ser colunista social não foi algo planejado, foi uma oportunidade que surgiu com o trabalho com Gasparotto, a quem o considera "mestre" e "insuperável". No convívio, aprendeu sobre a atividade e gostou. Depois de um retorno para a TVCom, Ivan atuou por cinco anos no Porto Alegre em Cena até 2001. Entre 2002 e 2003, apresentou o 'Guaíba Revista', com Magda Beatriz, na rádio Guaíba.
'Olha só'
O trabalho mais duradouro completou 20 anos em 2023: a coluna 'Olha só' no Jornal do Comércio. Mas ela nem sempre teve o enfoque e nome que tem hoje. O espaço começou como uma coluna social dos clubes, ideia de José Salimen Júnior, diretor do impresso. Nesse período, surgia no Grêmio Náutico União, por exemplo, a Daiane dos Santos, e na Sogipa, a Mayra Aguiar. "Para mim, era um mundo novo, mas era interessante e tinha muita arte, espetáculos, shows e música." Lembra-se de espetáculos como de Alcione, Jerry Adriani, Ney Matogrosso e Simone. Ele acredita que o trabalho lhe deu o "pique" de como fazer coluna social, onde é preciso resumir ao máximo a informação e deixar de uma forma interessante. Para isso, além de Gasparotto, ele se inspira em Eduardo Conill, que tem, para ele, um texto engraçado e um humor "muito peculiar". Com eles, aprendeu que o papel do colunista é "valorizar quem faz alguma coisa, colabora, constrói, como o artista, o pintor, o cantor, o escritor que lançou o livro e as pessoas que fazem benemerência". Assim como passar para as pessoas ideias sobre Arte e Cultura.
Por isso, mais do que um colunista, ele se considera um produtor de conteúdo informativo. "Que bom que as pessoas se programam para ver uma ópera, um filme, para ler um livro e ir a um teatro porque eu indiquei. Fico contente com isso, não tem realização maior." Além da informação, ele defende que a página tem que estar bonita e atraente, as fotos precisam ser legais e a diagramação necessita ser bacana - funções em que também gosta de mexer.
Um dos momentos mais desafiadores, para o profissional, foi a pandemia. Com medo de que a coluna terminasse e com a redução de espaço, foi quando ele realmente exercitou a produção de conteúdo, em especial de vídeo. Para tanto, procurou os amigos e os conhecidos, como artistas, atores, cantores, djs do Rio de Janeiro e de São Paulo. Foi o momento, também, de usar o arquivo de memórias e de conhecimento sobre artes e entretenimento para escrever conteúdos atemporais. Por isso, ele acredita que a cultura é o que há de mais relevante. "Quem não tem cultura não vai sobreviver, pode ganhar muito dinheiro, mas não vai ser lembrado." Para Ivan, será recordado quem produziu, divulgou e transmitiu algo mais interessante para as pessoas. Por isso, ele crê no "valorizar as pessoas, quem faz, quem produz, quem mantém uma sociedade justa, beneficente, criativa e quem empreende".
A gravação de imagens aumentou na pandemia, porém, começou já em 2016, por incentivo da colega Patrícia Comunello para registrar um evento na Ilha do Pavão, em Porto Alegre. O resultado ficou tão bom que eles fizeram o mesmo com entrevistas como de Bela Gil, Elizabeth Savala e Paulo Betti. O feedback decisivo para ele seguir a produção veio de quem ele também considera um mestre: Flávio Porcello.
Divisor de águas
O 'boom' e a mudança para o que é hoje vieram em 2017, com a cobertura da exposição polêmica e posteriormente cancelada 'Queermuseu - Cartografias da Diferença na Arte Brasileira', no Farol Santander na Capital. Antes da abertura da mostra, Ivan fez uma matéria em vídeo em que afirmou o caráter controverso da iniciativa. Em uma semana, o audiovisual já tinha mais de 360 mil visualizações. Apesar de muitas críticas no conteúdo, com o apoio do diretor-presidente do JC, Mércio Tumelero, o filme não foi retirado e segue no ar. "Isso me impressionou e me agradou muito, porque ele viu que era um documento muito importante e que ninguém tinha feito", comenta. Esse momento e a inclusão dos audiovisuais foram decisivos para a mudança na coluna. Afinal, as pautas haviam se ampliado para além dos clubes. O título foi sugestão da diretora de Projetos, Stefania Tumelero, inspirado no bordão utilizado para iniciar as entrevistas. A estreia foi em outubro de 2019, depois de ele retornar de uma temporada em Nova Iorque.
Da vontade de experimentar novidades e da saudade em atuar em rádio, em maio de 2022, Ivan criou, com Cássia Zanon, o podcast 'Olha Só, Porto Alegre'. A intenção foi homenagear os 250 anos da capital gaúcha e os 25 de amizade entre os jornalistas. "Eu adoraria ser um podcaster!", admite. O programa durou cerca de seis meses e entrevistou personalidades como Deise Nunes, Guri de Uruguaiana, Lauro Quadros, Magda Beatriz, Tânia Carvalho e Zé Adão Barbosa. Por ser um projeto independente, Ivan disse que é difícil conseguir patrocínio, mas ele gostaria de retomá-lo e, desta vez, com imagens no YouTube.
Por já ter atuado em diferentes setores e até gravado videoclipes - como da Adriana Calcanhoto e do Engenheiros do Hawaii -, ele se sente realizado. No entanto, além de retomar o podcast, voltar ao rádio é um desejo. "Eu adoro rádio. Acho que é um pouco herança do meu padrinho radialista", afirma ele, que se diz ouvinte assíduo de múltiplas emissoras. Além disso, voltar a trabalhar em televisão também é uma vontade.
Chato, mas amigo
Presente no trabalho, a Cultura também ocupa os momentos de lazer. Gosta de diferentes tipos de música, em especial MPB, pop rock e de artistas norte-americanos. Atualmente, tem escutado ópera e ido aos espetáculos da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa). Na leitura, é fã de biografia, pois diz que se aprende não apenas sobre a história da pessoa, mas se conhece o panorama da época e como é que a personalidade influenciou na cultura, na arte e na vida política. "A do Nelson Rodrigues, por exemplo, é um tratado sobre a Política e o Jornalismo brasileiro", exemplifica. As melhores para ele são as escritas por Ruy Castro, pois são sempre muito bem pesquisadas, embasadas e amparadas por muitos depoimentos e pesquisas. Também do autor, a melhor lida até hoje é da Carmem Miranda. A leitura atual é 'Quarto Aberto', de Tobias Carvalho. Além de ir ao cinema - menos do que antigamente, quando ia toda semana - e assistir séries, outro hobby é nadar - apenas por prazer, pois, como não gosta de perder, prefere não competir.
Além desta característica, dois defeitos que repara em si são o perfeccionismo, que o faz cobrar muito de si e dos outros, e a impaciência, o que o torna, como ele mesmo diz, "meio chato". "Eu não sei se eu conseguiria 'me dar' comigo. É porque eu reclamo um pouco das situações, porque elas estão muito fora de ordem", reflete. Por outro lado, ele se considera muito amigo dos seus amigos. "Eu tenho muitos amigos queridos de muitos anos e tenho paciência com eles", isso porque, para Ivan, eles não têm defeito, assim como inimigo não tem qualidade. "Para mim, são como se fossem pessoas da minha família, aquela que a gente escolhe."
Procurando não fazer mal para ninguém, ele se diz em busca de algo construtivo para ele e para os outros. Não se considera vaidoso e não sabe ouvir elogios, porque fica "meio sem jeito". Gosta do reconhecimento, porém acredita que é obrigação dele fazer o que faz bem feito e tem orgulho daquilo que desenvolveu bem. Colaborativo, é embaixador do Instituto da Mama do Rio Grande do Sul (Imama-RS) e sempre procura divulgar ações de entidades sociais, como o Instituto do Câncer Infantil, pois entende que apoiar o trabalho voluntário também é uma missão.
Planos só para viagens
Ivan não planeja a vida, "planos só de viagens", declara, destacando que é uma atividade que ele adora e já fez muito. Para ele, viajar muda completamente a "cabeça", a alma, o astral e a vida em si. "Quem não viaja não vive. Quem não viaja, não lê, não ouve música, não ri e não toma banho de mar, não vive", sentencia. Ainda, para ele, "uma viagem não acaba nunca", pois ela segue nas recordações e, quando se fala sobre, é possível reviver os momentos.
O próximo destino na mira é a Patagônia. No entanto, os locais preferidos são os que possuem mar e piscina. "Quer me ver feliz, me leva para uma praia", afirma, uma vez que gosta do pé na areia e da energia do mar. A maioria dos passeios fez com a amiga de mais de 30 anos, a professora de História da Arte Tania Bian. Em qualquer lugar que vá, uma visita obrigatória são os museus, que ele diz ter conhecido mais de 100. Entre os locais que já esteve, estão Berlim, na Alemanha, Capadócia, na Turquia, Finlândia, Grécia, Londres, na Inglaterra e Rússia.
Já conheceu alguns lugares sozinho; entretanto, prefere sempre estar acompanhado, pois acredita na força de uma amizade. Aliás, é enaltecedor desse sentimento, o qual considera fundamental para a vida. "Se tu não tens amigos, não tens parceiros de histórias e não tens qualidade de vida", defende. Além disso, para ele, "os amigos te levam para tu seres uma pessoa melhor, para tu conheceres fatos e lugares que tu nunca ia ver na tua vida" e, por isso, são eles que fazem a vida valer a pena.